sexta-feira, 29 de junho de 2012

Pele, cheiro, cor















Não sei se da pele
O tato, o cheiro ou a cor.
Não sei se é o gosto do beijo,
O hálito,
Ou a ilusão de amor.
Não sei se é a voz
Que soa em bemol...
Se é o brilho da lua lá fora
Ou de dentro a clave de sol?
Ou se é tudo isso
Que se mistura em chama
À luz de vela
Entre cordas e fios
Tão longe da cama.
Em um minuto, um momento,
Ser e ter tudo o que pode
E que dessa música ou sonho nunca ouça um
-“acorde!”

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Essa capoeira













Foi Mestre Bimba que te ensinou
Toda essa ginga,
Toda essa arte de fazer amor?
Amor com tempero
De cravo e canela
Canela em pó
Pau de canela
Com gosto de doce
Pitada de sal
Batida de atabaque
Repique de berimbau
Me beija na boca
Me faz malandragem,
Me deixa na roda
Na maior vadiagem
Se tem meia lua
Ou noite de lua cheia
Venha inteiro meu rei
Me deita, me cheira
Entrega teu corpo
Vai rolar brincadeira
Traz toda malícia
Dessa tal capoeira

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Poetas exageram o que sentem















Poetas não nascem,
passeiam pela Terra
Poetas não respiram, suspiram
Poetas não pensam, imaginam
Poetas não dormem, sonham
Poetas não amam, veneram...
Poetas não mentem,
Exageram o que sentem.
Poetas...

Roda vida















A roda vida
De gente pequena
Gira gigante
Gira gente
Roda gigante
Com gente pequena
E a vida roda
Ávida vida
Que vira amante
E roda a gente
Pequena gente gigante

terça-feira, 26 de junho de 2012

Tenho medo














No  momento
tenho medo.
Me encontro no vazio,
fico vendo o tempo passar
e nada faço.
O tempo pára diante de minha fraqueza,
enquanto o mundo gira com tanta leveza
e os fatos acontecem.
As pessoas crescem,
e o meu dia, todo igual.
A falta de carinho,
solidão
carência
me levariam à demência
sem a mistura à essência
das flores de jasmim
que se molham no jardim
ao cair da chuva.
Aguardo o homem
que em sua noite insone
com sua mente insana
joga com palavras
de conteúdo profundo
na superfície rasa
do seu coração vagabundo
que se perde no asfalto da vida
de vários sinais luminosos
e libidinosos
mão e contra mão
para um só escolhido
que aprove e prove sua libido
Em seus raros momentos de amor.

Despertar



















Despertar...
Enfim, o encanto acabou.
Acordar de um sonho,
mesmo querendo ficar a dormir.
Coração, terra do nunca...
Emoções sufocadas
gritando socorro, querendo explodir.
Ser frio quando o calor transpira na pele.
A vontade do colo...
Verbena no vaso de cristal.

A música /sem saída/
no fim da rua /sem mais entrada/
soa longe... e se mistura
ao som da noite:
pessoas indo e vindo,
passam pelo meu rosto
como vento quente vindo da areia
em fim de tarde de verão.

Mas sem cheiro de maresia.
Sem estrelas no mar.

E a lua de São Jorge
Insiste em brilhar no alto do céu,
cheia e alheia,
a tudo, indiferente à tristeza
como se ela não pudesse existir.
E ilumina a cidade escura
de rostos desconhecidos
esperando pra ser descoberta
livre e aberta
àqueles que nela sorrir.

Cortar as cordas.
E partir.
Partir as cordas.
Cortar...
a corda.

Acorda!

domingo, 17 de junho de 2012

Segunda maior















                  É segunda-maior.

No seu abraço, o tom:
Clave de sol.
E sem Dó,
O maestro,
Prepara a escala com a mão
E na curva quente do meu violão
Faz sua versão,
Inversões e acordes
Em várias posições...
E eu quero a quinta, a sexta, a oitava
Em sucessões ascendentes e descendentes
De notas diferentes
Sem intervalo ou silêncio.

O som que se ouve é gemido, é sentido.
Enarmonia total.

E desejo que se faça um arpejo,
Cadência melódica
De beijo.
Sem pausa.
Ritorno.

A música não pode parar.

Mas o metrônomo do tempo
Com seu tique-taque surdo, eu lamento
Interrompe a orgia
E põe fim à magia.

Do fogo só resta a fumaça
Que se desfaz em um momento
Em que tento ser única,
Única nota
Em seu pensamento.

Momento de paz


           












Momento:

Enfim, a paz.

Voar nas mãos de um anjo,
Arcanjo
Viver energia e pensamento

É tudo que tem o momento

Entrar num sonho inocente
Que de tão presente
Parece real
e frágil como cristal.
Mas não parece quebrar.

Não é amor!
Não tem ciúme, nem dor...

É sintonia, harmonia
Em êxtase
Encontro na alma.

E a música soa tão calma
Convida para bailar
No brilho da luz do luar
Tão fluido, tão prata.
Com pés
Em estrelas
Do céu,

Com os pés
Em estrelas do mar.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Com gosto de rum















Iria ser só desculpa
Um pedido de paz.
Iria ouvir só a música
Poesia? Jamais!
Mas que beijo foi aquele
Com sabor de bebida e um pouquinho de fumo ao fundo
E a vontade de lambuzar seu corpo com rum
Saborear... lambendo tudo no maior desejo vagabundo!
Tudo recomeça.
Não tenho forças mais pra impedir.
Faz bem, faz mal...
O que há de doce na vida que se possa resistir?





quinta-feira, 7 de junho de 2012

Paixão, diamante bruto

















            Paixão:

Diamante bruto
Lapidado pelo não
Em ternura.
Nada a ter
Nada a temer
Nada a dever.

Saber dividir.

Ser a segunda
Das segundas
Talvez mais uma
Ou mesmo nenhuma.

E é o braço
Que me abraça
Que se abre feito asa
E se perde num vôo
Num sonho real.

E se lança ao mundo
Só pra citar
Meu grande rival.

Sitar e tabla
A toda altura
Escrevem a vida
Na tablatura
De um coração
Atado em cordas de violão
Que tenta a fuga na aventura
Enquanto procura
O seu
Verdadeiro “eu”